quinta-feira, 21 de agosto de 2008

...

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no
amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que
nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a
felicidade.
(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

será que os amores são assim?


prenda um arco-íris em seus braços
trilhe seu caminho na poeira das estrelas
meu coração é o tremor da água
tremor que morre quando a lua esfria



ser dona de si

E pensa que não há nada melhor do que poder fazer exatamente tudo o que quer, na hora em que quer
TEM DIAS que você acorda que sei lá. Não aconteceu nada que te aborrecesse, nenhum problema à vista, tudo bem em todos os sentidos -os normais- e você está péssima. Para começar, não consegue levantar da cama, e nela ficaria o dia inteiro, a vida inteira, a troco de nada. A cabeça está ruim, o analista está viajando, os amigos estão fazendo coisas, não têm tempo nem competência nem paciência para ouvir você -e, no fundo, ouvir o quê, se nem você mesma sabe o que dizer? Fica pensando: o que poderia acontecer agora para sair desse estado ridículo -porque a depressão sem razão é quase ridícula, mas a gente só sabe disso depois que ela passa-, com tanta gente sofrendo por razões sérias e você sem nenhuma. E o pior é que quando se está nesse estado nunca se pensa que ele vai passar. E pensar em viver assim a vida toda, realmente não dá. É uma agonia, quem sabe entrando num chuveiro as coisas melhoram? E a força para levantar e tomar um banho? Já cansou de ouvir falar que sair e andar um pouco é tiro e queda, mas se vestir, botar um tênis e ver o dia bonito, o céu azul e as pessoas alegres, correndo, rindo, é tudo que não se quer. Se pelo menos estivesse chovendo, fazendo frio, mas não: está um dia maravilhoso, e assim não dá. Botar um CD nem pensar, ligar a TV também não, é quase uma dor física no peito, é claro, que dói mais que uma pedra no rim, pois para essa você sabe que há remédio. O jeito é continuar no fundo das cobertas tentando não pensar em nada, e na verdade não pensando, e tão triste que não consegue lembrar um só momento de alegria e felicidade que já tenha tido, e achando que a vida não tem solução. E será que tem? O dia vai passando, nada melhora, e você não faz rigorosamente nada para tentar sair dessa. Para não morrer de fraqueza, pega na geladeira uma gelatina, essa pelo menos escorrega pela garganta sem precisar nem mastigar. Mas a vontade de viver é sempre mais forte, e já à tarde, com a cabeça funcionando melhor, resolve que vai melhorar. Começa devagar: levanta da cama, enche a banheira com uma água bem quentinha e toma um banho sem pressa; depois se veste, põe um suéter bacana, se maquia -muito importante- vai para a sala e começa a olhar em volta. Tem uma casa bonita, exatamente como queria, e importante: nenhum eletrodoméstico está com defeito, tudo está funcionando, o que é uma benção dos céus. E começa a bater uma certa fome, sinal de que as coisas estão melhorando. Mas fica quietinha, esperando; e umas duas horas depois decide -porque isso é uma questão de decisão- que chega, não vai ficar assim não. Pega a bolsa e vai a um restaurante de que gosta, pede uma caipirinha da fruta mais alegre que existe, o caju, e depois uma carne sangrenta com farofa e batata frita, tudo que evita 360 dias por ano. E pensa que não há nada melhor do que poder fazer exatamente tudo o que quer, na hora em que quer, que tem o direito de às vezes cair em depressão e não ter que dar satisfações a ninguém, nem à amiga nem ao analista, e que isso é a coisa mais importante deste mundo. Porque ser livre para ser feliz, ou até infeliz, é um privilégio que todos devem ter.

danusa leão

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

mais um dele

Sempre acho que namoro, casamento, romance tem começo, meio e fim. Como tudo na vida. Detesto quando escuto aquela conversa:- 'Ah,terminei o namoro...'- 'Nossa,quanto tempo?'- 'Cinco anos...Mas não deu certo...acabou'-É não deu...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.E o bom da vida, é que você pode ter vários amores. Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo,como cobrar cem por cento do outro?E não temos esta coisa completa.Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.Tudo nós não temos.Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro.Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não teimpressiona...Acho que o beijo é importante...e se o beijo bate...se joga...se não bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta. Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra.O outro tem o direito de não te querer.Não lute, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.O ser humano não é absoluto. Ele titubeia, tem dúvidas e medos mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.Nada de drama.Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem, gravidez, dinheiro,recessão de família?O legal é alguém que está com você por você.E vice versa.Não fique com alguém por dó também.Ou por medo da solidão.Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar,seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro.Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?Gostar dói.Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.E nem sempre as coisas saem como você quer...A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta.Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.Na vida e no amor, não temos garantias.E nem todo sexo bom é para namorar.Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.Nem todo beijo é para romancear.Nem todo sexo bom é para descartar.
Ou se apaixonar. Ou se culpar.
Enfim...quem disse que ser adulto é fácil?

Arnaldo Jabor!cist

terça-feira, 12 de agosto de 2008

the day after

na manhã seguinte ela não quis deixar seu telefone, ele insistiu.
ela fugiu, mas ato-falho ou não, esqueceu seus acessórios no flat dele, e quando se deu conta, já havia descido no elevador e nem se lembrava mais de que andar partira, não podia sequer voltar.
resolveu escrever um email, único modo de contactá-lo.
os emails seguiram frios, ela se chateou.
ele nao tendo o poder ficara frio repentinamente?
ela retrucou a fria resposta com humor aproveitando a deixa dele para sair, convidando-o para tomar algo ainda naquela semana.
ele se deu conta da frieza virtual, declinou o convite e se desculpou veladamente.
ela aproveitou novamente a deixa e desistiu, pediu educadamente que ele deixasse os acessórios na portaria, pediu o endereço e avisou que passaria lá sem incomodá-lo.
mas mesmo assim, deixou a fresta aberta para que ele, em um horário vago e interesse mínimo, mandasse um sinal de fumaça, que, quem sabe eles poderiam ainda sair.
mas sem o compromisso de resgate de bens esquecidos por aí...

desejo impossível

as vezes, ou quase sempre desejo aquilo que sei ou acho que é impossível.
maneira esdrúxula de pré-aceitar que pode ser que não dê certo.
desejo impossível.

para rir...

Um dia a rosa encontrou a couve-flor e disse:
-Que petulância te chamarem de Flor! Veja sua pele: é áspera e rude, enquanto a minha é lisa e sedosa... Veja seu cheiro: é desagradável e repulsivo, enquanto o meu perfume é sensual e envolvente...Veja seu corpo: é grosseiro e feio, enquanto o meu é delicado é elegante.. Eu, sim, sou uma flor!
E a couve-flor respondeu:
-HELOOOOOUU, QUERIDAAAA!!! De quê adianta ser tão linda, se ninguém te come???
AUTO ESTIMA É TUDO!

sábado, 9 de agosto de 2008

Ledo engano

Rosana não o reconheceu apesar dele ter chamado sua atenção na portaria no meio daquela bagunça, seus olhares se cruzaram. Ela não percebeu se ele estava acompanhado, mas a impressão já estava feita.
Entraram e se perderam um do outro. A festa transcorreu ao longo da animada noite e, de repente ele estava sendo apresentado na mesma roda de dança de Rosana. Ele se identificou como um antigo colega de escola, o que a surpreendeu, pois ela não conseguia se lembrar dele, mas fez positivamente com a cabeça enquanto rastreava-o mentalmente no meio de outros rostos do passado.
Ele se aproximou dela e começaram a dançar iniciando também uma conversa sobre passado-presente. O clima estava agradável, mas algo incomodava Rosana, pois ela descobrira que eles se formaram no mesmo ano, e inexplicavelmente ela não se lembrava dele. Outras pessoas da roda ajudaram-no falando o quanto ele estava mudado fisicamente e Rosana sorria amavelmente completando com uma frase que se repetiria ao longo da noite: “nossa, você cresceu”.
Seu jeito de dançar era bastante extravagante, mas ela já começara a simpatizar até mesmo com suas esquisitices. Chegou a pensar, e comentar, com uma amiga que ele era muito diferente, que não lembrava-se muito bem dele. Mas ele estava sendo muito requisitado pelas mulheres, isso a deixou intrigada e Rosana decidiu ver até onde iria aquilo tudo. Deixou-se aproximar, quando ia ao banheiro, o observava de longe em uma tranqüilidade que a incomodava, mas ao ver que ele a buscava com o olhar, sentia-se feliz.
A noite transcorreu alegremente, deram risadas juntos e se convidavam para ir até o bar pegar mais um copo de destilado. Ela simpatizou com ele como se nunca o tivesse visto, o que era um ponto a favor, pois se ele dizia ter feito colégio com ela, já não era um total desconhecido.
Essa felicidade tomou forma quando o encontrou a caminho do bar, ele segurava seu copo esperando-a, seus olhares se cruzaram em meio a cabeças de gente que passavam incessantemente. Ela se aproximou, ele sorriu, o mundo não existia naquele momento, apenas os dois e seus copos usados com desculpa para unirem as mãos.
Ele maliciosamente declarou sua vontade aproximando seus lábios no dela. Ela o convidou para ir até o segundo andar com o olhar, interrompendo seu movimento. Subiram as escadas procurando um lugar mais reservado, se beijaram e a magia se fez. Não por completo, pois ainda havia algo nele que não a deixava se aproximar, mas estando ébria como ela se encontrava naquele momento, não deu atenção a seus instintos.
Logo desceram e se juntaram ao grupo que se organizava para ir embora. Com a lei seca, as pessoas se organizavam em taxis que partiam lotados para todos os lados da cidade. Ele entrou no taxi com ela e seguiram até sua casa, já era dia, se despediram e trocaram telefone rapidamente.
Na volta para casa, em sua cabeça ainda meio confusa, veio uma imagem acompanhada da lembrança do comentário feito por ele na festa que, na época da escola, era bem magro e que as pessoas dificilmente o reconheciam no presente. Veio à mente a imagem de um menino franzino, de cabelos loiros divididos ao meio, um menino tímido que não falava com ninguém, estudioso, daqueles nerds da escola que nunca falam com as meninas, será que era ele? Rosana não conseguia associá-lo a outra pessoa que não aquele menino. Ficou chocada, de boca aberta, pensou em como o mundo dá voltas, como as pessoas crescem, deixam de ser patinhos feios e se tornam príncipes, as vezes até sem saber.
Rosana afastou o pensamento e decidiu não comentar com ninguém conhecido o ocorrido na noite anterior, as pessoas não entenderiam o que nem ela mesma estava entendendo.