Rosana não o reconheceu apesar dele ter chamado sua atenção na portaria no meio daquela bagunça, seus olhares se cruzaram. Ela não percebeu se ele estava acompanhado, mas a impressão já estava feita.
Entraram e se perderam um do outro. A festa transcorreu ao longo da animada noite e, de repente ele estava sendo apresentado na mesma roda de dança de Rosana. Ele se identificou como um antigo colega de escola, o que a surpreendeu, pois ela não conseguia se lembrar dele, mas fez positivamente com a cabeça enquanto rastreava-o mentalmente no meio de outros rostos do passado.
Ele se aproximou dela e começaram a dançar iniciando também uma conversa sobre passado-presente. O clima estava agradável, mas algo incomodava Rosana, pois ela descobrira que eles se formaram no mesmo ano, e inexplicavelmente ela não se lembrava dele. Outras pessoas da roda ajudaram-no falando o quanto ele estava mudado fisicamente e Rosana sorria amavelmente completando com uma frase que se repetiria ao longo da noite: “nossa, você cresceu”.
Seu jeito de dançar era bastante extravagante, mas ela já começara a simpatizar até mesmo com suas esquisitices. Chegou a pensar, e comentar, com uma amiga que ele era muito diferente, que não lembrava-se muito bem dele. Mas ele estava sendo muito requisitado pelas mulheres, isso a deixou intrigada e Rosana decidiu ver até onde iria aquilo tudo. Deixou-se aproximar, quando ia ao banheiro, o observava de longe em uma tranqüilidade que a incomodava, mas ao ver que ele a buscava com o olhar, sentia-se feliz.
A noite transcorreu alegremente, deram risadas juntos e se convidavam para ir até o bar pegar mais um copo de destilado. Ela simpatizou com ele como se nunca o tivesse visto, o que era um ponto a favor, pois se ele dizia ter feito colégio com ela, já não era um total desconhecido.
Essa felicidade tomou forma quando o encontrou a caminho do bar, ele segurava seu copo esperando-a, seus olhares se cruzaram em meio a cabeças de gente que passavam incessantemente. Ela se aproximou, ele sorriu, o mundo não existia naquele momento, apenas os dois e seus copos usados com desculpa para unirem as mãos.
Ele maliciosamente declarou sua vontade aproximando seus lábios no dela. Ela o convidou para ir até o segundo andar com o olhar, interrompendo seu movimento. Subiram as escadas procurando um lugar mais reservado, se beijaram e a magia se fez. Não por completo, pois ainda havia algo nele que não a deixava se aproximar, mas estando ébria como ela se encontrava naquele momento, não deu atenção a seus instintos.
Logo desceram e se juntaram ao grupo que se organizava para ir embora. Com a lei seca, as pessoas se organizavam em taxis que partiam lotados para todos os lados da cidade. Ele entrou no taxi com ela e seguiram até sua casa, já era dia, se despediram e trocaram telefone rapidamente.
Na volta para casa, em sua cabeça ainda meio confusa, veio uma imagem acompanhada da lembrança do comentário feito por ele na festa que, na época da escola, era bem magro e que as pessoas dificilmente o reconheciam no presente. Veio à mente a imagem de um menino franzino, de cabelos loiros divididos ao meio, um menino tímido que não falava com ninguém, estudioso, daqueles nerds da escola que nunca falam com as meninas, será que era ele? Rosana não conseguia associá-lo a outra pessoa que não aquele menino. Ficou chocada, de boca aberta, pensou em como o mundo dá voltas, como as pessoas crescem, deixam de ser patinhos feios e se tornam príncipes, as vezes até sem saber.
Rosana afastou o pensamento e decidiu não comentar com ninguém conhecido o ocorrido na noite anterior, as pessoas não entenderiam o que nem ela mesma estava entendendo.