quinta-feira, 27 de novembro de 2008

encuentros


estava por aí andando distraída, até meio bebinha
entrei guiada por uma amiga neste bar conhecido da vila madalena
meus olhos se depararam com aquele par de olhos
olhos pretos, profundos, mas tristes
sorriso impecável
que final de noite agradável aquele:
no meio de amigos, todos assim, meio leves demais
entre risos e palhaçadas gerais, os olhos tristes me chamaram a atenção
eu vi, ele viu, nos olhamos e sorrimos

o tempo passou e sumimos, depois de uma carona até a casa dele, meu vizinho
e depois de dois beijos caprichados e estalados na bochecha indicando o interesse e a falta de coragem de dar um passo em direção a

jantar entre amigos juntou novamente o casal de desconhecidos
que queriam ser conhecidos se conhecendo
e o jantar se fez
risos
olhares, poucos
conversas, muita comida
e na saída
novamente a carona, que se transformou em algo a mais,
uma longa conversa, de conhecer-se, de curiosar, de chegar
um beijo tímido
rompe-se em um silêncio bem aproveitado
outros beijos
seguidos de mais conversas,
como velhos conhecidos
completamente desconhecidos

fiquei na minha, nada de entusiasmo
fiquei na minha, não deixei de ser eu mesma e mostrar meu interesse
comedidamente
fiquei na minha
só olhando de canto de olho para aquele par de olhos profundos
nada tristes nessa noite
ele perguntou da minha vida,
combinamos algo para a semana que viria
ele julgando estar longe, nao aguentou e pediu o telefone,
para marcar algo antes, por assim dizer
foi claro, ele foi claro queria me ver antes

pensei, brinquei, curiosei, me senti a vontade de não ter espectativas
falamos das qualidades, dos defeitos, ele enalteceu seus defeitos
avisou, deu a chance
mas, gostei também disso
e precisava sentir e saber o que sentiria tocando beijando se entregando
e senti

não é nenhum adonis
não quero adonis, quero alguém humano
não tem olhos verdes
não quero olhos verdes que não me dizem nada,
quero profundidade
não tem mãos grandes
não quero mãos grandes que não me tocam de verdade,
quero ser tocada, descoberta, sentida
pele na pele
com delicadeza e firmeza necessárias

não quero um cara expansivo
não quero sumir no meio de suas piadas,
quero participar de sua vida, de seus amigos e ser eu mesma
sem ofuscar nem ser ofuscada


se despediu dizendo:
até amanhã
respondi com um sorriso nos lábios
até amanhã



iii, isso não vai prestar...

domingo, 16 de novembro de 2008

Olhos verdes, foi isso que ela viu primeiro nele.
Os cachos levemente caídos não revelavam o verdadeiro volume do cabelos castanho.
Ela o viu de longe, o reconheceu do orkut, onde tinha visto sua foto.
Sumiu de seu campo de visão.
Quando apareceu novamente, estava ao seu lado olhando para algum ponto não definido no horizonte, como se pensasse na próxima ação.
Falou com ele, o convidou para sentar-se.
Tomaram cerveja, se olharam, conversaram.
Uma amiga chegou e ele, tímido, abriu-se para uma nova conversa.
Ela levantou-se e foi providenciar mais cerveja e mais comida, pois já sentia os efeitos da inocente cervejinha no meio da tarde.
Voltou, circulou, observou.
O tempo passou e o barulho da festa pareceu aumentar tranformando a conversa em algo sofrível, visto que ele falava muito baixo e ela tinha que se inclinar para escultá-lo.
Fim da festa: trocaram apenas emails e bolgs para lerem o trabalho de ambos.
O tempo passou e o primeiro contato pós festa foi feito através de uma provocação dele via web.
Conseguiram se ver na cam e marcaram o primeiro encontro.
Regado a vinho e muito papo, o primeiro beijo saiu e com ele tudo que estava debaixo de uma educação e respeito do não conhecimento.
Passearam debaixo da lua crescente, na fala, troca de idéias e convivência daquelas horas juntos, tentaram se conhecer.
Ele, menos tímido, a elogiou e se abriu mais deixando aquele ar de desconfiado no passado.
Ela, mais tímida, ficou impressionada com a nova pessoa que se apresentava diante dela.
Ficaram com vontade de se ver de novo.
Despediram-se pensando nisso,
agora era só questão de começar a construir algo novo, algo somente deles, algo musical, algo verde e profundo.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tarde se fazia e ela ainda não sabia se ia ou não até o lugar marcado, há quinze anos não o via. Em sua cabeça lembrava-se de um menino franzino, mas que a havia marcado de alguma maneira, eram quinze anos sem ter nenhum contato. Era outro país, eram outras pessoas, era uma outra realidade, mas mesmo assim ela queria ve-lo. Procurando seu primo naquela tarde, ligou no hotel e quem atendeu foi ele. Ela lembrou-se do nome, ficou surpresa, ele a reconheceu e a tratou com familiaridade, combinaram o encontro para aquela noite, mas ela chegaria tarde porque já tinha um compromisso marcado. Mesmo tarde, de supetão, ela decidiu ir, sem avisar, pois pelo adiantado da hora, ele não deveria estar mais no local combinado. Ela estava constrangida, tinha outros amigos e seu primo, ela havia marcado com seu primo. Tentou ligar, mas a bateria de seu celular acabou. Mesmo assim resolveu arriscar. O local estava cheio, muita gente e música alta lá dentro. Calmamente entrou na fila e esperou, imaginou, lembrou, fantasiou até que conseguiu entrar. Fumaça, aglomerado, muita gente no mesmo lugar, ela achou aquilo surreal, precisava de uma estratégia. Decidiu ir para a esquerda, correndo o risco deles sairem pela direita, o local era estreito mas precisava ir ao segundo andar para poder localizar quem procurava. Andou, olhou em volta, subiu as escadas, não visualizou, desceu e decidiu ir ao último local onde eles poderiam estar: perto da banda que tocava ensurdecedoramente. No meio das cabeças e ombros, visualizou aquele que parecia ser seu primo, ganhou alguns passos, se desvencilhou das pessoas e assim que obteve a certeza, ele tambem a viu. Abraçaram-se longamente. Com um largo sorriso no rosto, seu primo explicou que já estava bebado e se prontificou a pegar algo para beber, ela pediu uma caipirinha. Quando se virou, seus olhos encontraram os dele, depois de quinze anos. Cumprimentaram-se calorosamente e todas aquelas pessoas a sua volta desapareceram. O tempo mudou de cor naquele momento, todo este tempo parecia que não tinha passado, por mais que novos dados da vida de ambos se fizessem presentes, nada mais importava. Ele contou que possuia um vídeo daquele tempo que ela nem se lembrava mais, pediu seu email para envia-lo, pois agora o video estava digitalizado. Ela se impressionou, não se lembrava do tal vídeo, mas tinha outras tantas lembranças. Contou as suas, ouviu as dele. A conversa fluiu como se o tempo não corresse, a noite pareceu uma vida, mas o final do show anunciou a alba que chegava. Ela sentiu-se a própria cinderela ouvindo as badaladas anunciando o final da festa que tanto esperou. Ele logo fez promessas de ve-la mais tarde, quis marcar, fizeram apostas, riram, mas a hora de se separar era chegada. Os amigos o chamavam insistentemente, a van passaria no hotel para leva-los ao autodromo em pouco tempo, era a primeira vez dele no país e ele já torcia pelo brasileiro que lutava pelo título.
O primo respeitou quando viu que os olhares nao se desgrudavam. O que teria acontecido há quinze anos, se eles tivessem saído juntos e se conhecido quando ela estava de visita no país dele? Porque será que ele não a convidou? Como teria sido a história deles? Será que algo teria mudado? Muitas perguntas engraçadas e absurdas surgiram, mas foi inevitavel falar disso: riram-se os dois pela inocência daquela época. Agora eram dois adultos,cada um em seu país com sua vida, ele estava mais incorpado e maduro; ela mais bonita, mais mulher. No mesmo ano, quando voltou de visita no país dele, ela havia perguntado dele para seu primo, mas não poderia passar dali, não se atreveu. E agora ele estava ali, diante dela, como cúmplices, lembrando-se de momentos antigos e construindo novos. Ele dizia que seu olhar era penetrante, ela o olhava com profundidade. O tempo estava terminando e com ele a chance de sentir aquilo que eles tiveram receio há quinze anos. Ele parecia mais do que um velho conhecido, ele estava muito próximo, ela gostava de suas lembranças emocionais para te-lo perto, e ali estava ele, perto fisicamente também. E com esta proximidade, veio à tona todo sentimento que estava ali guardado dentro daquela caixinha encostava naquele canto, lá dentro, há tanto tempo, até empoeirado, mas cheio de coisas. Coisas estas que eles nunca saboreariam se não abrissem a caixa antes dele entrar naquele taxi. Mas será que eles deveriam abri-la?